Os últimos 5 ou 10 anos foram fundamentais para a discussão sobre a adoção efetiva de tecnologias digitais, novos modelos de negócios e aquisições, e entrega de novos patamares de eficiência para os cidadãos em todas as cidades do mundo.
Rankings, prêmios, projetos e projetos internacionais ganharam enorme relevância e aprofundaram a atenção colocada sobre o que se convencionou chamar de “Cidades Inteligentes” (Smart Cities). O foco e a centralidade do tema ganharam tamanha aceleração que surgiram infinitos conceitos, regulamentos, normalizações, leis, pareceres e propostas a tal modo que muitos gestores públicos, interessados ou provocados pelo tema toparam com razoável dificuldade de entendimento, definição e, por consequência, objetividade no trato de tal utopia: a de tornar as cidades mais amáveis com os seus cidadãos e garantir serviços e benefícios mais e efetivos e facilmente acessados.
A miríade de conceitos e de entendimentos disseminados chegou a ser brutal, quase a ponto de jogar na vala dos temas “modinhas” esse de tão grande importância e abrangência. Com isso, tornou-se necessário que muitos municipalistas, jornalistas, gestores, consultores, professores e interessados em geral na melhoria de vida nas cidades começassem a esmiuçar e definir melhor essa “Geléia Geral” dos recursos, atributos e carismas das urbanidades mundo a fora.
Alguns defendiam que as PPPs eram o núcleo do que se podia chamar de Cidade Inteligente, outros a transformação digital, havia os que consideravam os novos concursos e a reposição de mão de obra no serviço público, ou ainda a necessária aceleração da disponibilidade de malha de acessibilidade sem fio pública. Tal qual o que aprendemos com a parábola dos cegos que buscam definir um elefante pela parte que são capazes de alcançar e tocar, vimos os defensores de itens e bulets limitados perderem a capacidade de enxergar a beleza da enorme complexidade que representa as Cidades e as suas administrações, ainda mais se recheadas de inteligência e tecnologia.
NÃO HÁ UM TEMA OU ASSUNTO QUE DEFINA UMA CIDADE INTELIGENTE.
Por isso, a cada novo evento, palestra, reunião, projeto o desafio do entendimento e da gestão para a inteligência das cidades foi se acomodando melhor, criando contornos mais nítidos e tornando-se claro e objetivo àqueles que, embora interessados, não viam efetividade de adoção e viabilidade.
Pois bem, para a nossa sorte, a maturidade dessas discussões vem em ótimo termo e a bom tempo de encontrar com as eleições municipais no Brasil. 2024 traz consigo uma janela de oportunidade ímpar!
É claro que as eleições aconteceram a cada 4 anos e portanto 2028 poderá ser uma nova oportunidade, 2032, 2036 e assim “ao infinito e além”. Também é claro que o tema Cidades Inteligentes vai continuar evoluindo e trazendo muitas possibilidades de melhoria da gestão pública municipal em geral. Mas, a conjunção de uma eleição que pode ser a divisora de águas entre aquelas que foram apoiadas nas campanhas de promessas vazias e xingamento, e as que terão moldura conceitual para discutirem as cidades de verdade e seus desenvolvimentos, com a maturidade e frescor do assunto Cidades Inteligentes e suas derivações, talvez seja algo que se assemelha à passagem do Cometa Harley.
Sob a ótica das campanhas, um aparato conceitual que poderá servir de guia, de diretriz e de incentivo às discussões fundamentais que são verdadeiramente maiores do que saúde, segurança e educação (sem desmerecer a relevância dessas disciplinas). Os “coachs” dos candidatos terão à sua disposição um checklist de temas e assuntos de profunda importância e de grande apelo eleitoral, seja pela objetividade, pela contemporaneidade, pela inovação ou adequação social.
Os eleitores também poderão se valer desse roteiro comparando as propostas e os discursos à luz de conceitos novos mas já com maturidade e aplicabilidade comprovados, avaliando e classificando os candidatos e os projetos de cidades que apresentam. Dessa forma, terão argumentos claros para questionar, criticar, elogiar ou desconsiderar propostas, sem que usem para isso exclusivamente a paixão, o “nós e eles” ou as promessas vazias e inexequíveis.
E para os órgãos e profissionais que vêm dedicando tempo, esforço e competência na formulação de novas políticas e planos de governo, surge uma oportunidade inédita de apoiarem as campanhas e os candidatos no desenvolvimento de suas candidaturas rumo a um nível mais alto, propositivo e focado. A ANCITI foi visionária nessa jornada, encabeçou e antecipou muitas dessas conversas, e hoje, tem plena condição de apoiar os municípios associados nessas formulações, assim como cada um dos participantes poderá apoiar a candidatura com quem melhor se alinha politicamente.
Termino confessando que tenho um sonho (I have a dream!) de que não percamos a enorme oportunidade de associarmos a eleição municipal de 2024 às experiências inovadoras de gestão municipal motivadas pelo conceito de Cidades Inteligentes mundo a fora para de modo profundo e sensível melhorarmos grandemente o nível da discussão eleitoral em cada município brasileiro.
Mauricio Pimentel
Consultor, palestrante e professor
Especialista em tecnologia e Cidades Inteligentes.