Essa é uma daquelas perguntas que todos nós já fizemos a nós mesmos naqueles momentos de planejamento, desenho de projeto, argumentação e defesa de um plano de governo ou da busca de recursos para uma ação. É aquela pergunta que se fizermos a 10 especialistas, teremos 12 respostas (rs). Também, do tipo que sempre serão respondidas com um rotundo “DEPENDE!”.

Na minha experiência costumo tratar essas questões como mal feitas, mal configuradas ou apoiadas em contextos e variáveis pobres ou irrelevantes.

O tamanho ideal da cidade que vem se lançando na jornada da transformação tecnológica, digital ou de inteligência urbana é o exato tamanho que a cidade que se questiona tem, porém influenciada pela capacidade de investimento, impactado pela ousadia dos seus governantes e muitíssimo expandida pela capacidade de buscar ajuda, convênios, parcerias produtivas, focadas e alavancadoras ou habilitadoras de processos de mudança, desenvolvimento e inovação.

Já ouço os comentários dos queridos leitores seguidores da ANCITI: “falou, falou e não disse nada!”

Pois é. Peço desculpas, mas discordo e explico.

Estou dizendo com muita segurança que não é o tamanho ou os atributos geográficos e demográficos que definem o potencial de transformação de uma cidade, mas as ações e apoios que ela é capaz de empenhar, organizar e desenvolver, seja por meio do corpo de representantes e servidores, seja com a ajuda de parceiros e fornecedores de mercado, seja ainda por meio de colaboração com cidades vizinhas, amigas, conveniadas ou associadas.

Vejam só, se considerarmos que há cidades que são muito grandes para a inovação e a jornada de transformação teríamos muitos problemas para explicar como algumas das nossas cidades que têm 2 milhões de habitantes ou mais conseguem fazer planos, colocá-los em prática e colher resultados positivos. Nesse grupo estão Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e – disparada na liderança – São Paulo. Cidades que temos tido a possibilidade de acompanhar a evolução aqui mesmo, nas rodas de conversas da ANCITI.

Bom, então podemos considerar que as pequenas são aquelas que não são elegíveis ao crescimento e desenvolvimento tecnológico e digital?

Ora, bolas, claro que não. Aqui mesmo entre nós há diversas cidades pequenas que têm menos de 100 mil habitantes ou ainda menos de 50 mil. Sem querer cometer nenhuma gafe, penso em Louveira onde tem sido realizado um bom trabalho atualmente.

De qualquer forma, embora eu argumente que o “tamanho não é documento”, penso que seja importante discutirmos outras formas de viabilização da jornada que não seja a do atendimento à cidade e ponto.

Tenho discutido e participado de conversas que tem buscado viabilizar os “Bairros Inteligentes”. Sem dúvida uma derivação da cidade que possibilita muitas vantagens como a possibilidade de experimentação, teste, viabilização econômica e investimento privado, seja daqueles que veem oportunidades empresariais de negócios, seja daqueles que sonham e buscam viabilizar um bom lugar para morar com suas famílias.

No passado, quando se ouvia falar de Bairros Planejados (o conceito correlato nos anos 80) quase sempre falávamos de bairros premium, com alto valor por m2, com confortável distância dos grandes centros, enfim, coisa de rico. Hoje, conheço uma dezena de projetos que partem de premissas bem interessantes do ponto de vista social, econômico, estrutural e que com isso conjugam transporte público com áreas de estacionamento dos automóveis privados, conjugam moradias de alto padrão com as de menos valor porém com igual dignidade. Que promovem a mobilidade, o meio ambiente, a educação cívica, a colaboração … tudo isso apoiado e potencializado por tecnologia e inovação.

Mas também, tenho visto crescer sensivelmente o número de projetos encampados por associações de municípios que promovem o investimento conjunto e consorciado na construção ou aquisição de melhorias comuns, comunitárias e intermunicipais de modo a viabilizarem economicamente investimentos de maior monta, logo, soluções de maior valor agregado e cobertura.

Tais coletivos de municípios têm cumprido um papel importante de orientar métodos, práticas, legislação que desenvolvidas em conjunto podem também ser disponibilizadas em conjunto, criando assim um nível de colaboração intenso, sem ferir as autonomias e projetos individuais dos governos e municípios participantes, gerando impacto positivo a um conjunto de cidadãos e habitantes maior do que o de qualquer uma das cidades participantes.

Com isso, tento reafirmar a convicção que tenho de que não é o tamanho do município o fator decisivo pela decisão e gestão da jornada de transformação, mas o uso do recorte estrategicamente correto e adequado a cada uma das necessidades e propostas de solução tecnológica, digital e de inteligência.

Penso que os temas associação de municípios para aquisição de tecnologia e o de bairros inteligentes merecem ser tratados em outros artigos, escritos por mim ou por qualquer um de nós que se arrisque a enfrentar o teclado para colocar as suas visões e ideias. Até o próximo.

Mauricio Pimentel
Consultor, palestrante e professor
Especialista em tecnologia e Cidades Inteligentes.

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